Wednesday 5 August 2015

O VINHO MOSCATEL DA QUINTA DA MOITA LONGA E A REGIÃO DEMARCADA DE ORIGEM CONTROLADA DE AGUARDENTE VÍNICA DA LOURINHÃ

Quando no séc. XVIII se começou a produzir em escala o vinho do Porto, logo se constatou que o mesmo perdia propriedades na descida do rio Douro e no transporte para o estrangeiro. A solução encontrada foi a de o beneficiar com aguardente vínica de características muito especiais, devendo esta ser destilada de vinhos de baixo teor alcoólico e muita acidez. Assim sendo, os vinhos verdes do Norte possuíam essas características embora a sua parca produção dificultasse a utilização em escala para o fabrico da aguardente.

Foi então que se descobriu que na região da Lourinhã existiam vinhos com características semelhantes às dos vinhos verdes, cujas características eram perfeitas para o fabrico de aguardente vínica. Houve logo casas de vinho do Porto que passaram a requisitar aguardente vínica da Lourinhã, e muitas delas chegaram mesmo a ter aí as suas próprias destilarias. Por esse motivo se compreende também que na Lourinhã se tivessem instalado filiais de agências bancárias e de seguros da “cidade invicta”.

Hoje, Lourinhã, Cognac e Armagnac, constituem as três únicas regiões demarcadas de origem controlada, em todo o mundo, de aguardente vínica.

No século passado, as aguardentes da Lourinhã eram transportadas em carros de bois até ao Bombarral e daí seguiam de comboio até ao Porto. Ora acontece que esta história criou grande celeuma nos produtores de vinho verde do Norte, e os comboios vindos do Bombarral, à chegada, eram sistematicamente ameaçados e vandalizados. O tempo passou e a verdade é que já no limiar do séc. XXI, muitos dos vinhos verdes que foram comercializados aquém e além fronteiras foram fabricados com uvas da região da Lourinhã, sem que se soubesse.

É a partir de 1900 que as aguardentes da Lourinhã conhecem um grande incremento e é no primeiro quartel do séc. XX que se instalam na Lourinhã destilarias, agências de seguros e agências bancárias da “cidade invicta”.

Contudo, o que iria marcar o ano de 1900, não seriam as aguardentes, mas sim os vinhos licorosos da Lourinhã. Conforme se pode ler em “História de Portugal” do Prof. Joaquim Veríssimo Serrão, em Paris, abrira a 4 de Abril a grandiosa Exposição Universal, onde o nosso país se fez representar[1]. Ora aconteceu que o vinho moscatel da Quinta da Moita Longa (Lourinhã) foi premiado na Exposição Universal de Paris; e novamente em 1915 viria a ser galardoado na Exposição Mundial Panamá – Pacífico, entre outros prémios em outras grandes exposições nacionais e internacionais.


Quinta da Moita Longa

Toda a informação supracitada pode ser consultada no Anuário Comercial de Portugal (Biblioteca Nacional de Lisboa) e no Instituto Nacional de Estatística.

Aquando da Exposição universal de Paris, em 1900, era assim a vida na Lourinhã:

Caminhos de Ferro

As estações mais próximas eram Torres Vedras (20 km), Bombarral (17 km) e S. Mamede (14 km).

Diligências

     Havia diligências diárias para Torres Vedras e para Peniche (de serviço combinado até Óbidos e Caldas da Rainha, e para a Praia da Areia Branca a 100 reis, ida e volta).

Feiras e mercados

     A 24 de Agosto no lugar de S. Bartolomeu, a 8 de Setembro no sítio de Nossa Senhora da Misericórdia e a 21 de Setembro na Lourinhã. Mercado de gado maior e miúdo, recentemente criado, no 2.º domingo de cada mês, excepto em Setembro.
      
Administração do Concelho

     Administrador: Joaquim Pereira Coutinho
     Substituto do Administrador: Francisco Maria Pereira Marques
     Secretário: António Maria Roque Delgado
     Amanuense: Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo
     Oficial de diligências: Cosme Ribeiro

Administração Judicial

     Juiz: Visconde de Ferreira Lima
     Delegado: Álvaro Miranda Pinto de Vasconcellos
     Escrivães: João de Fontoura Madureira
                      Alberto Cardoso
     Contador: Alfredo Martins
     Arbitradores: Francisco Pedro de Carvalho
                           Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo
                           Carlos Fernando Horta Gama
                           João Veríssimo de Oliveira
                           Jacinto Ferreira Nobre
     Oficiais de diligências: Manuel da Graça Júnior
                                      José Ferreira Pinto
     Carcereiro: Daniel Lourenço Ferreira

Advogado

      Visconde de Palma de Almeida

Agência bancária

     Lisboa & Açores: Ernesto António Conde

Agências de seguros

     Tagus: Francisco de Paula Furtado
     Probidade: Joaquim Pedro de Oliveira
     Portugal: Alberto M. De Carvalho
     Internacional: Carlos Gama
     Commercial do Porto: Fernando de Almeida


Águas minerais

     Uma nascente sulfurosa, não analisada nem explorada, próximo do lugar do Paço, freguesia de São Bartolomeu

Armação de pesca

     Sistema valenciano no sítio de Paimogo, de Augusto Simões Ferreira da Cunha

Assistência judiciária

     Presidente: Álvaro Miranda Pinto de Vasconcellos
     Vogais: Dr. Francisco Marques
                   Boaventura de Sousa Marques

Barbeiros

     Albino dos Reis Cadete
     José Baptista Ferreira
     Epiphanio Ribeiro
     José Rafael Pereira

Câmara Municipal

     Presidente: Francisco de Paula Furtado
     Secretário: Arthur Gonçalves
     Amanuense: Fernando d’Almeida 
     Contínuo: Augusto dos Santos Picão
     Aferidor: Arthur Ramires Ferreira Nobre
     Tesoureiro: Ernesto António Conde
     Condutor de obras municipais: E. Coutinho

Conservatória

     Conservador: Dr. Francisco Marques

Correarias

     José da Silva Lucas
     Leopoldo Augusto Madeira

Correio e telégrafo

     Chefe: Joaquim Gregório dos Santos
     Distribuidor: José Baptista Ferreira
     Guarda-fios: Manuel Maria

Destilarias de Aguardente

No Inquérito Industrial de 1890[2] existiam na Lourinhã 7 destilarias de Aguardente com um capital fixo de 7.500$000 [7,5 contos de reis] – só 3 destilarias é que responderam; capital circulante de 7.500$000, uma delas a funcionar todo o ano, três em 3 meses, duas em 2 meses, uma em 1 mês, com um número médio de dias de trabalho por ano de 30 a 90, de Verão 12 horas de trabalho, de Inverno 6 a 12 horas; número médio de serões por ano, 20 a 90; horas por serão, 3 a 4; número médio de operários por dia: 18.

Em 1900, aferiram:
    
     António Luiz Marques
     Jayme Pereira Coutinho
     José Agnelo do Rosário e Silva
     António dos Santos Bernardes

Enxofre para vinhas

     Alfredo Júlio Franco

Farmácia

     António César H. Gama

Ferradores

     Lino José dos Reis
     Manoel Moço

Hotel

     Amélia dos Reis Cadete

Juiz de paz

     Juiz: Anacleto Marcos da Silva
     Escrivão: Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo

Lavradores ou agricultores principais

     Visconde de Palma de Almeida
     José Joaquim da Costa
     António Luiz Marques
     Adriano Palma
     Arthur Gonçalves
     Francisco Furtado
     António Rodrigues Pereira
     Viúva de João da Silva Lucas
     José Agnelo do Rosário e Silva
     Jayme Pereira Coutinho
     Vicente Pimentel & Quintans (Quinta da Moita Longa)

Negociantes e comerciantes

     José Henriques Horta d’Almeida
     Viúva de João da Silva Lucas
     António Luiz Marques
     Vicente Fernandes Duarte
     Marques & Carvalho
     Francisco Maria Pereira Marques
     José Pinheiro d’Andrade
     Augusto Simões Ferreira da Cunha
     João Jeronymo da Costa
     Veríssimo de Oliveira
     Hugo José dos Santos

Notários

     Os escrivães de direito

Obras Públicas

     Chefe da secção de conservação: Joaquim Pedro de Oliveira

Paróquia

     Prior: Augusto Nazareth
     Coadjutor: José Quintino de Carvalho

Polícia

     Guardas: José Joaquim
                    Manuel Eusébio
                    Cosme Ribeiro
              
Professores

     Joana da Providência Alenquer
     P. Júlio Thiago
     António de Oliveira Carvalho
     Maria do Carmo Reis
                         
Recebedoria

     Recebedor: Ernesto António Conde
     Proposto: Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo

Repartição de Fazenda

     Escrivão: Carlos Alberto da Silva Velloso
     Das execuções fiscais: Carlos Fernandes Horta Gama
                                          Fernando d’Almeida
     Escriturários: Carlos Fernandes Horta Gama
                           Adelino Xavier

Saúde Pública

     Sub-delegado: Joaquim de Jesus Lopes

Teatro e Sociedade de Recreio

     Theatro Club Recreativo Quatorze de Julho
     Philarmónica Lourinhanense


Trens de aluguer

     Proprietários: Dr. António Luiz Marques
                            Alfredo Júlio Franco
                            Joaquim Bento

Vinicultores

Vicente Pimentel & Quintans, proprietários da Quinta da Moita Longa. Premiados na Exposição Universal de Paris.

Principal comércio do concelho

O concelho é essencialmente agrícola, abundando em vinho, trigo, milho e batata. Também é abundante em peixe e fruta, especializando-se a maçã.

Freguesias

Miragaia

     Pároco: Francisco José Alves
     Professora: Maria Adelaide Fernandes dos Santos
     Comerciantes: Augusto dos Reis Cadete
                             José Henriques Ribeiro
                             António Dias Sarreiro (da Marteleira)
                             José Vieira (da Ribeira de Palheiros)
     Encarregado do correio: Augusto dos Reis Cadete
     Fábrica de destilação de vinhos: Jayme Pereira Coutinho
     Lavradores ou agricultores: Manuel Ferreira (das Papagovas)
                                                  Manuel  Matheus (de Miragaia)
                                                  Jayme Pereira Coutinho (da Quinta do Perdigão)
                                                  Filipe Bernardo (de Vale de Moura)
     Regedor: João Tavares
                                           
Moita dos Ferreiros

     Pároco: Silvestre Tavares dos Santos Lima 
     Professor: António Duarte da Silva
     Comerciantes principais: Ezequiel Duarte
                                              Manuel Pereira Loureiro
     Encarregado do correio e regedor: José de Oliveira Guimarães
     Lavradores ou agricultores: D. Maria da Conceição F. Rego
                                                  José Luiz da Silva Rego
                                                  José Matheus

Moledo

     Pároco: Silvestre Tavares dos Santos Lima 
     Comerciante e encarregado do correio: António Custódio
     Lavradores ou agricultores: António da Silva Carapeto
                                                  Arsénio Simões
                                                  Ignácio José

Reguengo Grande

     Pároco. Ângelo Firmino da Silva
     Professor: Theodoro Coelho de Barros
     Comerciantes: Silvano Marcellino
                             José António Pereira
                             José Maria de Carvalho
     Lavradores ou agricultores: Manuel Francisco Marques
                                                  José Bernardino
                                                  João Maria Rodrigues
                                                  João Maria do Nascimento
     Chefe da estação telegrafo-postal: João Fontes Pinto
     Regedor: Arsénio Leonardo

São Bartolomeu dos Galegos

     Pároco: Ângelo Firmino da Silva
     Encarregado da estação postal: Gabriel Marques
     Lavradores ou agricultores: Manuel Luiz Marques de Matos (da Quinta da Lameira)
                                                  Joaquim Ferreira
                                                  Augusto Simões Ferreira da Cunha
     Regedor: Joaquim da Costa

Vimeiro

     Pároco: Luiz António do Sobreiro
     Professora: Lydia da Assunção Ferreira de Moraes Pinto
     Comerciante: José Thomaz da Costa
     Encarregado do correio: José de Andrade Jordão
     Lavradores ou agricultores: António da Silva Henriques
                                                  José de Andrade Jordão

     Regedor: José da Silva Henriques




[1] Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, Vol. X, pág. 91, Editorial Verbo, 1987
[2] Idem, ibidem, Distrito de Lisboa, pág. 40

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