Quando no séc. XVIII se
começou a produzir em escala o vinho do Porto, logo se constatou que o mesmo
perdia propriedades na descida do rio Douro e no transporte para o estrangeiro.
A solução encontrada foi a de o beneficiar com aguardente vínica de
características muito especiais, devendo esta ser destilada de vinhos de baixo
teor alcoólico e muita acidez. Assim sendo, os vinhos verdes do Norte possuíam
essas características embora a sua parca produção dificultasse a utilização em
escala para o fabrico da aguardente.
Foi então que se descobriu que na região
da Lourinhã existiam vinhos com características semelhantes às dos vinhos
verdes, cujas características eram perfeitas para o fabrico de aguardente
vínica. Houve logo casas de vinho do Porto que passaram a requisitar aguardente
vínica da Lourinhã, e muitas delas chegaram mesmo a ter aí as suas próprias
destilarias. Por esse motivo se compreende também que na Lourinhã se tivessem
instalado filiais de agências bancárias e de seguros da “cidade invicta”.
Hoje, Lourinhã, Cognac e Armagnac,
constituem as três únicas regiões demarcadas de origem controlada, em todo o
mundo, de aguardente vínica.
No século passado, as aguardentes da Lourinhã eram
transportadas em carros de bois até ao Bombarral e daí seguiam de comboio até
ao Porto. Ora acontece que esta história criou grande celeuma nos produtores de
vinho verde do Norte, e os comboios vindos do Bombarral, à chegada, eram
sistematicamente ameaçados e vandalizados. O tempo passou e a verdade é que já
no limiar do séc. XXI, muitos dos vinhos verdes que foram comercializados aquém
e além fronteiras foram fabricados com uvas da região da Lourinhã, sem que se
soubesse.
É a
partir de 1900 que as aguardentes da Lourinhã conhecem um grande incremento e é
no primeiro quartel do séc. XX que se instalam na Lourinhã destilarias,
agências de seguros e agências bancárias da “cidade invicta”.
Contudo, o que iria marcar o ano de 1900,
não seriam as aguardentes, mas sim os vinhos licorosos da Lourinhã. Conforme se
pode ler em “História de Portugal” do Prof. Joaquim Veríssimo Serrão, em Paris,
abrira a 4 de Abril a grandiosa Exposição
Universal, onde o nosso país se fez representar[1]. Ora
aconteceu que o vinho moscatel da Quinta da Moita Longa (Lourinhã) foi
premiado na Exposição Universal de Paris; e novamente em 1915 viria a ser
galardoado na Exposição Mundial Panamá – Pacífico, entre outros prémios em
outras grandes exposições nacionais e internacionais.
Quinta da Moita Longa
Toda a informação supracitada pode ser
consultada no Anuário Comercial de Portugal (Biblioteca Nacional de Lisboa) e
no Instituto Nacional de Estatística.
Aquando da Exposição universal de Paris,
em 1900, era assim a vida na Lourinhã:
Caminhos
de Ferro
As estações mais
próximas eram Torres Vedras (20
km ), Bombarral (17 km ) e S. Mamede (14 km ).
Diligências
Havia
diligências diárias para Torres Vedras e para Peniche (de serviço combinado até
Óbidos e Caldas da Rainha, e para a Praia da Areia Branca a 100 reis, ida e
volta).
Feiras
e mercados
A 24 de Agosto
no lugar de S. Bartolomeu, a 8 de Setembro no sítio de Nossa Senhora da
Misericórdia e a 21 de Setembro na Lourinhã. Mercado de gado maior e miúdo,
recentemente criado, no 2.º domingo de cada mês, excepto em Setembro.
Administração
do Concelho
Administrador:
Joaquim Pereira Coutinho
Substituto do
Administrador: Francisco Maria Pereira Marques
Secretário:
António Maria Roque Delgado
Amanuense:
Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo
Oficial de
diligências: Cosme Ribeiro
Administração
Judicial
Juiz: Visconde
de Ferreira Lima
Delegado: Álvaro
Miranda Pinto de Vasconcellos
Escrivães: João
de Fontoura Madureira
Alberto Cardoso
Contador:
Alfredo Martins
Arbitradores:
Francisco Pedro de Carvalho
Eduardo Augusto Rodrigues
d’Azevedo
Carlos Fernando Horta Gama
João Veríssimo de Oliveira
Jacinto Ferreira Nobre
Oficiais de
diligências: Manuel da Graça Júnior
José
Ferreira Pinto
Carcereiro:
Daniel Lourenço Ferreira
Advogado
Visconde de Palma de Almeida
Agência
bancária
Lisboa &
Açores: Ernesto António Conde
Agências
de seguros
Tagus: Francisco
de Paula Furtado
Probidade:
Joaquim Pedro de Oliveira
Portugal:
Alberto M. De Carvalho
Internacional:
Carlos Gama
Commercial do
Porto: Fernando de Almeida
Águas
minerais
Uma nascente
sulfurosa, não analisada nem explorada, próximo do lugar do Paço, freguesia de
São Bartolomeu
Armação
de pesca
Sistema
valenciano no sítio de Paimogo, de Augusto Simões Ferreira da Cunha
Assistência
judiciária
Presidente:
Álvaro Miranda Pinto de Vasconcellos
Vogais: Dr.
Francisco Marques
Boaventura de Sousa Marques
Barbeiros
Albino dos Reis
Cadete
José Baptista
Ferreira
Epiphanio
Ribeiro
José Rafael
Pereira
Câmara
Municipal
Presidente:
Francisco de Paula Furtado
Secretário:
Arthur Gonçalves
Amanuense:
Fernando d’Almeida
Contínuo:
Augusto dos Santos Picão
Aferidor: Arthur
Ramires Ferreira Nobre
Tesoureiro:
Ernesto António Conde
Condutor de
obras municipais: E. Coutinho
Conservatória
Conservador: Dr.
Francisco Marques
Correarias
José da Silva
Lucas
Leopoldo Augusto
Madeira
Correio
e telégrafo
Chefe: Joaquim
Gregório dos Santos
Distribuidor:
José Baptista Ferreira
Guarda-fios:
Manuel Maria
Destilarias de Aguardente
No Inquérito Industrial de
1890[2]
existiam na Lourinhã 7 destilarias de
Aguardente com um capital fixo de 7.500$000 [7,5 contos de reis] – só 3 destilarias é que responderam;
capital circulante de 7.500$000, uma delas a funcionar todo o ano, três em 3
meses, duas em 2 meses, uma em 1 mês, com um número médio de dias de trabalho
por ano de 30 a
90, de Verão 12 horas de trabalho, de Inverno 6 a 12 horas; número médio de
serões por ano, 20 a
90; horas por serão, 3 a
4; número médio de operários por dia: 18.
Em 1900, aferiram:
António Luiz
Marques
Jayme Pereira
Coutinho
José Agnelo do
Rosário e Silva
António dos
Santos Bernardes
Enxofre
para vinhas
Alfredo Júlio
Franco
Farmácia
António César H.
Gama
Ferradores
Lino José dos
Reis
Manoel Moço
Hotel
Amélia dos Reis
Cadete
Juiz
de paz
Juiz: Anacleto
Marcos da Silva
Escrivão:
Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo
Lavradores
ou agricultores principais
Visconde de
Palma de Almeida
José Joaquim da
Costa
António Luiz
Marques
Adriano Palma
Arthur Gonçalves
Francisco
Furtado
António
Rodrigues Pereira
Viúva de João da
Silva Lucas
José Agnelo do
Rosário e Silva
Jayme Pereira
Coutinho
Vicente Pimentel
& Quintans (Quinta da Moita Longa)
Negociantes
e comerciantes
José Henriques
Horta d’Almeida
Viúva de João da
Silva Lucas
António Luiz
Marques
Vicente
Fernandes Duarte
Marques &
Carvalho
Francisco Maria
Pereira Marques
José Pinheiro
d’Andrade
Augusto Simões
Ferreira da Cunha
João Jeronymo da
Costa
Veríssimo de
Oliveira
Hugo José dos
Santos
Notários
Os escrivães de
direito
Obras
Públicas
Chefe da secção
de conservação: Joaquim Pedro de Oliveira
Paróquia
Prior: Augusto Nazareth
Coadjutor: José
Quintino de Carvalho
Polícia
Guardas: José
Joaquim
Manuel Eusébio
Cosme Ribeiro
Professores
Joana da
Providência Alenquer
P. Júlio Thiago
António de
Oliveira Carvalho
Maria do Carmo
Reis
Recebedoria
Recebedor:
Ernesto António Conde
Proposto:
Eduardo Augusto Rodrigues d’Azevedo
Repartição
de Fazenda
Escrivão: Carlos
Alberto da Silva Velloso
Das execuções
fiscais: Carlos Fernandes Horta Gama
Fernando
d’Almeida
Escriturários:
Carlos Fernandes Horta Gama
Adelino Xavier
Saúde
Pública
Sub-delegado:
Joaquim de Jesus Lopes
Teatro
e Sociedade de Recreio
Theatro Club
Recreativo Quatorze de Julho
Philarmónica
Lourinhanense
Trens
de aluguer
Proprietários:
Dr. António Luiz Marques
Alfredo Júlio Franco
Joaquim Bento
Vinicultores
Vicente Pimentel
& Quintans, proprietários da Quinta da Moita Longa. Premiados na Exposição
Universal de Paris.
Principal
comércio do concelho
O concelho é
essencialmente agrícola, abundando em vinho, trigo, milho e batata. Também é
abundante em peixe e fruta, especializando-se a maçã.
Freguesias
Miragaia
Pároco:
Francisco José Alves
Professora:
Maria Adelaide Fernandes dos Santos
Comerciantes:
Augusto dos Reis Cadete
José Henriques Ribeiro
António Dias Sarreiro
(da Marteleira)
José Vieira (da Ribeira
de Palheiros)
Encarregado do
correio: Augusto dos Reis Cadete
Fábrica de
destilação de vinhos: Jayme Pereira Coutinho
Lavradores ou
agricultores: Manuel Ferreira (das Papagovas)
Manuel Matheus (de Miragaia)
Jayme Pereira
Coutinho (da Quinta do Perdigão)
Filipe Bernardo (de
Vale de Moura)
Regedor: João
Tavares
Moita
dos Ferreiros
Pároco:
Silvestre Tavares dos Santos Lima
Professor:
António Duarte da Silva
Comerciantes
principais: Ezequiel Duarte
Manuel
Pereira Loureiro
Encarregado do
correio e regedor: José de Oliveira Guimarães
Lavradores ou
agricultores: D. Maria da Conceição F. Rego
José
Luiz da Silva Rego
José
Matheus
Moledo
Pároco:
Silvestre Tavares dos Santos Lima
Comerciante e
encarregado do correio: António Custódio
Lavradores ou
agricultores: António da Silva Carapeto
Arsénio
Simões
Ignácio
José
Reguengo
Grande
Pároco. Ângelo
Firmino da Silva
Professor: Theodoro
Coelho de Barros
Comerciantes:
Silvano Marcellino
José António Pereira
José Maria de Carvalho
Lavradores ou
agricultores: Manuel Francisco Marques
José Bernardino
João
Maria Rodrigues
João
Maria do Nascimento
Chefe da estação
telegrafo-postal: João Fontes Pinto
Regedor: Arsénio
Leonardo
São
Bartolomeu dos Galegos
Pároco: Ângelo
Firmino da Silva
Encarregado da
estação postal: Gabriel Marques
Lavradores ou
agricultores: Manuel Luiz Marques de Matos (da Quinta da Lameira)
Joaquim Ferreira
Augusto Simões Ferreira da
Cunha
Regedor: Joaquim
da Costa
Vimeiro
Pároco: Luiz
António do Sobreiro
Professora:
Lydia da Assunção Ferreira de Moraes Pinto
Comerciante:
José Thomaz da Costa
Encarregado do
correio: José de Andrade Jordão
Lavradores ou
agricultores: António da Silva Henriques
José
de Andrade Jordão
Regedor: José da
Silva Henriques
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