Friday 31 July 2015

OS AZULEJOS E A CAPELA DA MOITA LONGA

Sobre os azulejos da Quinta da Moita Longa, o Prof. José Manuel Landeiro, do Instituto Português de História, Arqueologia e Etnologia, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Junta Nacional de Educação, deixou-nos o seguinte testemunho[1]:

Dentre os azulejos que se encontram no Concelho da Lourinhã, queremos aqui evidenciar os que se encontram na Capela da Quinta da Moita Longa. Ali encontramos azulejos do séc. XVII, na frontaria do Templo. No Pórtico, do lado do Evangelho, há um painel, infelizmente muito danificado pelo Tempo, que representa o “Paraíso Terreal”. Este painel, onde se vêm figuras bíblicas como o Pai eterno, animais, a Tentação de Eva pela serpente que se encontra encostada numa árvore do bem e do mal, Eva e Adão a serem expulsos do Paraíso, é do séc. XVIII.



Quinta da Moita Longa

Quem seria o autor e onde teria sido confeccionado? Não custa muito a acertar. Sabemos que uma das grandes e mais importantes fábricas de cerâmica do séc. XVIII foi a Real Fábrica do Rato, tendo sido seu primeiro mestre Thomaz Brunetto, de Turim. A fábrica elaborou durante 67 anos. Talvez por indicação de Brunetto, o Marquês de Pombal, mandou de Itália José Verolli, que era mestre de cerâmica em Itália e depois de contratado por Pombal, em 1767, passou a dirigir a Real Fábrica do Rato, que nos deixou peças de cerâmica e azulejaria no Palácio de Queluz e outros em museus, nomeadamente o de Arte Antiga, às Janelas Verdes e em edifícios públicos e até em moradias particulares.

Atendendo à época e ao “estilo”, digamos assim, daquele painel e comparando-o com outra obras, outra arte com as atribuídas a José Verolli, mestre da Real Fábrica do Rato, não receamos afirmar ser este painel saído desta fábrica e ter sido seu autor o mestre José Verolli.

Os ceramistas antigos são como os pintores também antigos, que, geralmente, não assinavam as suas obras o que é pena e dá trabalho aos estudiosos para identificarem os seus autores. Mas, como diz o nosso povo, “pelos domingos se conhecem os dias santos” ou “pelo andar da carruagem se vê quem vai lá dentro”.

E sobre a capela da Moita Longa, escreveu[2]:  

Encontrámos ali um verdadeiro Paraíso Terreal, onde não falta nada que nos fale à sensibilidade do nosso espírito, que tanto se deleitou com esta nossa visita.

Quem terá a história desta Quinta, principalmente da capela?

A capela era da invocação do mártir São Sebastião, mas a imagem deste soldado da guarda imperial, não está lá, pois segundo informações foi roubada e encontra-se na igreja de uma das freguesias ali próxima.

No tecto da capela há um fresco que representa a “Aparição” de Cristo a Nossa Senhora”, este já muito sumido e gasto pelos anos. O altar é de primorosa talha do séc. XVII.

Toda a Quinta da Moita Longa constituiu para nós, quando a visitámos, um vislumbrante Paraíso Terreal, onde não falta a ribeira a fertilizá-la, as fontainhas, com imagens de diversos santos. Ali a água corre a jorros, o que não admira, pois que em épocas já muito distantes, foi muito larga e caudalosa.

Uma das belezas artísticas que encontrámos na Quinta da Moita Longa, foi um crucifixo sobre rochas pintadas a preto. Estas rochas imitam as do Calvário onde Cristo foi crucificado. Sabe-se pelo Evangelho que quando Jesus expirou, a natureza revoltou-se, fazendo tremer a terra, os raios faiscaram, as pedras fenderam-se, mortos ergueram-se nos seus túmulos. As rochas fenderam-se? Mas como?

Conta-se que um incrédulo visitou em tempos, os Lugares Santos da Palestina, onde lhe foram mostradas as pedras do Calvário. Examinou-as com minuciosa atenção, e, após o seu exame atento declarou atónito aos companheiros: “Tenho estudado muito a natureza e estou convencido de que estas rochas deviam ter sido fendidas no sentido dos seus veios e onde a sua coesão fosse mais fraca. Assim observei sempre em outras rochas, quando fendidas e quebradas por um Terramoto. E a própria razão me diz que assim deve ser. Mas aqui observo o contrário. Estas rochas são fendidas transversalmente aos veios de modo estranho e contra as leis da natureza”.

E este incrédulo, perante esta maravilha, declarou mais:

“Por isso dou graças a Deus que aqui me conduziu para ver este monumento do seu poder, que dá testemunho eterno ou divindade de Cristo”.

Teria certamente respondido como os judeus fizeram, quando perante a revolta da natureza no momento de Cristo ter entregado ao Pai o seu espírito, disseram “Na verdade, este era o Filho de Deus!” Ora o Crucifixo que nós nos estamos a referir, com as rochas por peanha, deve ser uma cópia fiel, do Calvário de Jesus.

Para nós, este crucifixo da Capela da Quinta da Moita Longa, vale um tesouro, como um tesouro vale toda a capela onde ele se encontra.  



Quinta da Moita Longa



[1] José Manuel Landeiro, in Alvorada, 17 de Setembro 1970
[2] José Manuel Landeiro, in Alvorada, 9 de Agosto de 1970

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