Sobre os azulejos da Quinta da Moita Longa, o
Prof. José Manuel Landeiro, do Instituto Português de História, Arqueologia e
Etnologia, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Junta Nacional de Educação,
deixou-nos o seguinte testemunho[1]:
Dentre os azulejos que se encontram no
Concelho da Lourinhã, queremos aqui evidenciar os que se encontram na Capela da
Quinta da Moita Longa. Ali encontramos azulejos do séc. XVII, na frontaria do
Templo. No Pórtico, do lado do Evangelho, há um painel, infelizmente muito
danificado pelo Tempo, que representa o “Paraíso Terreal”. Este painel, onde se
vêm figuras bíblicas como o Pai eterno, animais, a Tentação de Eva pela
serpente que se encontra encostada numa árvore do bem e do mal, Eva e Adão a
serem expulsos do Paraíso, é do séc. XVIII.
Quinta da Moita Longa
Quem seria
o autor e onde teria sido confeccionado? Não custa muito a acertar. Sabemos que
uma das grandes e mais importantes fábricas de cerâmica do séc. XVIII foi a
Real Fábrica do Rato, tendo sido seu primeiro mestre Thomaz Brunetto, de Turim.
A fábrica elaborou durante 67 anos. Talvez por indicação de Brunetto, o Marquês
de Pombal, mandou de Itália José Verolli, que era mestre de cerâmica em Itália
e depois de contratado por Pombal, em 1767, passou a dirigir a Real Fábrica do
Rato, que nos deixou peças de cerâmica e azulejaria no Palácio de Queluz e
outros em museus, nomeadamente o de Arte Antiga, às Janelas Verdes e em
edifícios públicos e até em moradias particulares.
Atendendo à época e ao “estilo”, digamos
assim, daquele painel e comparando-o com outra obras, outra arte com as
atribuídas a José Verolli, mestre da Real Fábrica do Rato, não receamos afirmar
ser este painel saído desta fábrica e ter sido seu autor o mestre José Verolli.
Os ceramistas antigos são como os pintores
também antigos, que, geralmente, não assinavam as suas obras o que é pena e dá
trabalho aos estudiosos para identificarem os seus autores. Mas, como diz o
nosso povo, “pelos domingos se conhecem os dias santos” ou “pelo andar da
carruagem se vê quem vai lá dentro”.
Encontrámos ali um verdadeiro Paraíso Terreal, onde não falta nada que
nos fale à sensibilidade do nosso espírito, que tanto se deleitou com esta
nossa visita.
Quem terá a história desta Quinta, principalmente da capela?
A capela era da invocação do mártir São Sebastião, mas a imagem deste
soldado da guarda imperial, não está lá, pois segundo informações foi roubada e
encontra-se na igreja de uma das freguesias ali próxima.
No tecto da capela há um
fresco que representa a “Aparição” de Cristo a Nossa Senhora”, este já muito
sumido e gasto pelos anos. O altar é de primorosa talha do séc. XVII.
Toda a Quinta da Moita Longa
constituiu para nós, quando a visitámos, um vislumbrante Paraíso Terreal, onde
não falta a ribeira a fertilizá-la, as fontainhas, com imagens de diversos
santos. Ali a água corre a jorros, o que não admira, pois que em épocas já
muito distantes, foi muito larga e caudalosa.
Uma das belezas artísticas que encontrámos na Quinta da Moita Longa, foi
um crucifixo sobre rochas pintadas a preto. Estas rochas imitam as do Calvário
onde Cristo foi crucificado. Sabe-se pelo Evangelho que quando Jesus expirou, a
natureza revoltou-se, fazendo tremer a terra, os raios faiscaram, as pedras
fenderam-se, mortos ergueram-se nos seus túmulos. As rochas fenderam-se? Mas
como?
Conta-se que um incrédulo visitou em tempos, os Lugares Santos da
Palestina, onde lhe foram mostradas as pedras do Calvário. Examinou-as com
minuciosa atenção, e, após o seu exame atento declarou atónito aos
companheiros: “Tenho estudado muito a natureza e estou convencido de que estas
rochas deviam ter sido fendidas no sentido dos seus veios e onde a sua coesão
fosse mais fraca. Assim observei sempre em outras rochas, quando fendidas e
quebradas por um Terramoto. E a própria razão me diz que assim deve ser. Mas
aqui observo o contrário. Estas rochas são fendidas transversalmente aos veios
de modo estranho e contra as leis da natureza”.
E este incrédulo, perante
esta maravilha, declarou mais:
“Por isso dou graças a Deus que
aqui me conduziu para ver este monumento do seu poder, que dá testemunho eterno
ou divindade de Cristo”.
Teria certamente respondido como os judeus fizeram, quando perante a
revolta da natureza no momento de Cristo ter entregado ao Pai o seu espírito,
disseram “Na verdade, este era o Filho de Deus!” Ora o Crucifixo que nós nos
estamos a referir, com as rochas por peanha, deve ser uma cópia fiel, do
Calvário de Jesus.
Para nós, este crucifixo da Capela da Quinta da Moita Longa, vale um
tesouro, como um tesouro vale toda a capela onde ele se encontra.
Quinta da Moita Longa
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